Olá a todos! Nessa edição da mandajobs, eu convidei o Guilherme, jornalista cujo trabalho eu já acompanhava nas redes, para falarum pouco dos desafios e das barreiras de trabalhar com jornalismo em defesa do elo mais frágil da equação.
Espero que gostem da leitura. Se quiserem responder, eu encaminho para ele. Assinem a mandajobs, contem para os amigos e se alguém tiver histórias de trabalho para contar, me chamem em lorenabpv@gmail.com para dividir aqui nessa newsletter.
Até a próxima,
A ideia de que o jornalismo pode mudar o mundo, ao mesmo tempo, seduz e frustra muita gente. Apesar de ser uma das máximas em torno da profissão, nem sempre traduz o dia a dia de quem trabalha com isso.
Boa parte do tempo de um jornalista é, como em outras profissões, consumida pela leitura de relatórios, organização de documentos, tarefas burocráticas, reuniões longas — e coloco aqui as entrevistas como uma espécie de reunião. Isso é, o tempo é ocupado com tarefas que, de fato, ofuscam o brilho daquela noção original.
A partir da minha vivência, posso dizer que já senti com a mesma intensidade a sedução e a frustração despertadas por essa ideia. No entanto, acredito que, em dez anos de experiência profissional, jamais me afastei dela. E, inclusive, eu já vi essa mudança, em maior ou menor escala, acontecer.
Posso colocar o mérito de ver e, de certa forma, fazer o mundo mudar na sorte, é claro. Mas eu acredito que, para ser fiel à ideia de mudança, não basta “apenas” escolher ser jornalista. É preciso, antes, optar por um certo caminho na profissão.
Trata-se de tomar escolhas que nem sempre são fáceis, evitar a sedução do canto da sereia, questionar certos paradigmas. Na maior parte da minha carreira, resolvi fazer um jornalismo em defesa dos mais fracos (e aqui tem alguns links de reportagens que mostram isso): trabalhadores escravizados, comunidades ameaçadas, pequenos agricultores, pessoas que lutam contra a fome... Orientei minha carreira nessa direção.
Isso pressupõe, por um lado, preterir salas com ar-condicionado, coffee breaks, o conforto de um escritório por ir à rua, ouvir o que as pessoas têm a dizer, sujar a sola do sapato. Por outro lado, é muito gratificante ver que o seu trabalho ajudou a dar voz para quem não tem, contribui para reverter uma ação injusta, fomentou a luta de quem precisa lutar.
Em alguns momentos, mesmo essa dinâmica também será frustrante. Mas, hoje, eu posso dizer com alguma certeza que a sedução e o prazer, decorrente, delas são fiéis, porque, sim, o jornalismo muda o mundo.
Guilherme Zocchio é repórter e integrante da equipe de O Joio e o Trigo, site que discute alimentação sob a ótica política e suas implicações socioambientas. Para conhecer mais o trabalho dele, acesse o link.