Oi, assinante da mandajobs!
Parte da ideia desse projeto é abrir espaço para pessoas que eu admiro contarem de suas jornadas. O lado A é que são pessoas interessantes com carreiras interessantes. O lado B é um pouco mais egoísta: com elas, eu já aprendi e continuo aprendendo sobre a vida profissional.
A primeira convidada é a Marina, que, como repórter de carreira no Estadão, tem como foco a inclusão e a diversidade nos espaços profissionais. Além de ser um tema super importante, é no mínimo cansativo e intenso.
Nessa edição da mandajobs, ela conta um pouco sobre sua trajetória e o que é inegociável em um ambiente de trabalho, seja ele qual for.
Espero que gostem e convido todos a compartilhar esse texto e seguir o trabalho da Marina :) Boa leitura,
Lorena Pimentel
Marina Dayrell, repórter
Nos meus primeiros anos de carreira, o meu foco era em ter um emprego (acho que, de alguma forma, ainda é). Antes do jornalismo, quando eu me dividia entre fazer alguns trabalhos de panfletagem e garçonete de festa de formatura, era uma amiga que, ao encontrar essas oportunidades, me levava junto e me ensinava o que eu tinha que fazer. Depois de formada, um outro amigo inventou de fazer processos para trainees de jornais e me perguntou por que eu não tentava também, e eu fui. O tempo passou e surgiu uma vaga em uma editoria, e duas amigas, que sabiam que eu precisava de um emprego, foram correndo me contar. Já nesse trabalho, eu caí de paraquedas e não sabia o que estava fazendo lá. Foi uma outra pessoa (que depois se tornou minha amiga) que me pegou pela mão e me mostrou o caminho.
Quando eu olho para a minha trajetória profissional, é fácil ver que outras pessoas fizeram uma diferença muito grande nela. Para além das constatações óbvias sobre o famoso Q.I. (quem indica), a minha carreira tem sido marcada pelas pessoas que não só me ajudaram a chegar nos lugares que já ocupei, mas que, principalmente, me fizeram (e fazem) companhia para permanecer nesses lugares.
Trabalhar como repórter é algo que me deixa sempre pesada - ainda mais cobrindo diversidade e inclusão. Essa responsabilidade, no meu caso, é traduzida em episódios de dor de estômago, tensão e pesadelos em que amigos me ligam para dizer que eu fui cancelada, rs. Esses sentimentos já foram muito mais fortes, claro, mas não vou mentir e dizer que não me sinto assim às vezes ainda hoje. Mas, como diria a minha mãe, “quem pariu Mateus que o balance”.
Para aprender a ‘balançar Mateus’, tem me sido preciso um combo de muitas coisas: informação que não acaba mais, checagem e rechecagem, uma boa editora, um monte de terapia, alguma maturidade que o tempo traz e o que eu considero mais importante: trabalho em equipe. Eu não sei se algum dia vou parar completamente de sentir medo das coisas que eu escrevo, mas o que eu sei hoje é que ter com quem dividir o trabalho faz com que essas (e outras) partes ruins se diluam.
Por um tempo, eu achava que o que estou falando aqui agora fosse óbvio, que todo mundo sabe que trabalhar junto é muito melhor. A rotina fica menos pesada, você ri mais no trabalho, tem alguém para compartilhar suas ideias, para pegar sua mão quando você está afogando, xingar e chorar nos dias de luta e ir com você nos dias de glória. Mas alguns anos de mercado de trabalho (e, de novo, a terapia aqui me fazendo olhar para trás) me fizeram ver que não.
Uma coisa que aprendi logo é que ambientes extremamente competitivos me levavam para o oposto da competição, eu murchava e sucumbia. O começo da minha carreira foi marcado por experiências que são feitas para despertar o lado mais competitivo dentro de nós: programas trainee em que de muitos colocados - com quem você convive por meses e cria laços - apenas alguns terão empregos garantidos.
No primeiro deles, eu morri. Logo em um dos primeiros dias, um outro trainee me viu indo embora para casa depois do expediente às 18h30 e soltou em alto e bom som na frente dos chefes um “Nossa, mas já? Isso é hora de quem quer uma vaga ir embora?”. Detalhe: o nosso expediente acabava oficialmente às 18h. Com muitos anos de terapia, eu aprendi
que hoje a minha reação seria diferente, mas no dia eu fiquei sem graça e passei 40 minutos chorando no ônibus de volta para casa.
Claro que eu senti que precisava trabalhar essa dificuldade de encarar uma competição e de me impor, e aqui estamos até hoje (muito melhor do que há alguns anos, mas ainda no caminho). Porque, obviamente, não dá para chegar no mundo profissional e querer chorar quando a competição aparecer. A gente aprende que babacas estão em todos os lugares e lidar com eles vai ser preciso.
Mas a gente aprende também que boas relações são importantes. Não é à toa que estudos mostram que criar laços é visto como um dos itens necessários para a alcançar a felicidade no trabalho. Para muito além dos babacas, o mundo profissional está cheio de gente que vale a pena. E são essas pessoas que ajudam a crescer os frutos do que a gente faz (e vice-versa). Para o resto, como diria Didico, “que Deus perdoe essas pessoas ruins”.
Eu já perdi as contas de quantas vezes, desde a época de faculdade, quando me perguntaram se eu era feliz no meu trabalho, uma das primeiras coisas que eu sempre respondi (independentemente se a resposta era ‘sim’ ou ‘não’) é um “ah, mas eu gosto muito da equipe que trabalha comigo”. Nos últimos tempos, isso tem ficado ainda mais claro para mim. Desde o princípio, em muitos dos lugares pelos quais passei, ter alguém para segurar a minha mão foi o que me ajudou a não surtar e a conseguir ganhar confiança para trabalhar direitinho.
Este ano, três grandes amigas (não só de trabalho, mas que conheci por causa dele), pediram demissão e foram criar laços em outras equipes. E, embora eu tenha ficado muito feliz de vê-las ganhando o mundo, o choro foi certo. Foram elas que, durante muito tempo, me ajudaram a pensar em pautas, escrever matérias e achar fontes. Aquelas pessoas que, ainda no regime presencial, quando você empaca com uma matéria, você fala “vamos ali pegar um cafezinho?" e volta, 20 minutos depois, com novas ideias e uma sensação de alívio no peito. Ou com quem, no home office, você troca áudios e mais áudios no Whatsapp para entender se tudo aquilo que você está pensando, falando e escrevendo faz algum sentido.
Perder uma grande parceria de trabalho nunca é fácil, mas, olhando o copo meio cheio, pode ser uma oportunidade para criar novos laços.
A cereja do bolo, para mim, nessa saga de finalmente entender que eu me dou melhor em ambientes de trabalho nos quais haja colaboração veio no ano passado, quando fiz alguns cursos e mentorias de carreira. Invariavelmente, um dos primeiros passos em atividades assim é fazer um teste de perfil. E eu fiz vários, com tipos e nomes diferentes. Todos eles deram um resultado muito semelhante e a valorização por ambientes colaborativos apareceu de forma unânime.
Pode ser que você seja diferente de mim, ou pode ser que não. Se você não é do time que acha que trabalhar junto é melhor, eu sugiro que ao menos você tente olhar para quem está no dia a dia com você não como um concorrente para uma promoção, mas como alguém que vai quebrar o seu galho no dia que tudo der errado e você não conseguir produzir (e vice-versa. O vice-versa é muito importante também, não se esqueça!)
De qualquer forma, eu te aconselho a entender o que é importante e inegociável para você. Não é fácil definir inegociáveis dentro de uma lógica capitalista em que, muitas vezes, a gente vai ter que esticar um pouco essa corda. Mas saber o que a gente gosta e o que nos deixa confortável para conseguir crescer melhor também é importante.
Desses anos para cá, eu entendi que um ambiente colaborativo é um dos meus inegociáveis na vida. Correndo o risco de cruzar a fronteira da cafonice ao metamorfosear trabalhos e crianças - e de incluir citações aparentemente sem nenhum contexto aqui -, me vem à cabeça o provérbio africano que diz que (para criar uma criança, no caso) “é preciso uma aldeia inteira”. É isso. Não é que eu não saiba trabalhar sozinha. Tem coisa que realmente é melhor fazer individualmente. Mas, para todas as outras, eu tendo a achar que fazer junto leva a gente mais longe.
Marina Dayrell é jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós-graduanda em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global pela PUC-RS. Já foi repórter generalista, passando por áreas como entretenimento, cidades, política, economia, internacional e breaking news. Atualmente, é repórter do caderno de Carreira e Empreendedorismo do Estadão, com foco na cobertura de temas relacionados à diversidade e à inclusão. Por lá, faz de tudo um pouco: escreve matérias, faz vídeos, cuida de redes sociais e analisa dados.
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